quarta-feira, 30 de novembro de 2011

LITERATURA ITPAC 2012 - O MENINO NO ESPELHO- FERNANDO SABINO

O Menino no Espelho, terceiro romance de Fernando Sabino, foi lançado em 1982. Nesta obra o autor nos conta sobre sua infância em Belo Horizonte, na década de 20. Com sotaque mineiro, a criança Sabino nos narra de maneira bem fantasiosa todo o seu mundo imaginário e simples. Conta-nos como Odnanref, sua identidade secreta, aprendeu a voar como os pássaros, como ensinou uma galinha a falar, sobre sua visita ao Sítio do Pica Pau Amarelo, sobre seu cachorro Hidenburgo e seu coelho Pastoof. Fernando começa a brincadeira conversando com seu espelho, aos poucos o reflexo vai tomando forma e vida, tornando-se seu grande amigo e companheiro de todas as suas peripécias e aventuras de criança.
Fernando Sabino relata em primeira pessoa (a própria estrutura do livro é “memorialística”) prováveis episódios sucedidos em seus tempos de infância, porém entremeados por boas doses de ficção, insuflando vida a algumas fantasias próprias da imaginação pueril – o que acaba conferindo ao livro um certo caráter de realismo fantástico.

Como em Peter Pan, o menino Fernando encarna, através de várias de suas travessuras, sonhos e fértil imaginário, a vivacidade e a pureza próprias da criança – como na passagem da libertação dos passarinhos, um libelo metafórico em prol da liberdade e contra a opressão, aliado a uma certa tonalidade anti-militarista – em contraposição ao universo controlado e algumas vezes bestial dos adultos. É o eterno “embate” menino x homem, infância x idade adulta, e como a primeira define a segunda, além de tentar persistir em conservar o máximo possível de sua inocência e imaginação mesmo depois do “amadurecimento”.

Através da prosa simples, poética e próxima do coloquial, além de muitas vezes apresentar-se – sobretudo nas falas do garoto – numa linguagem infantil, Fernando Sabino reconstrói todo o universo particular e inteligente das crianças – respeitando-as na sua complexidade e individualidade -, concebendo-as como simplesmente crianças e não adultos em miniatura – todavia contundentes na formação dos adultos que serão. E para dar mais autenticidade ao texto, é notória a honestidade com que as peripécias e experiências da infância, com todas as suas idiossincrasias e “absurdos”, são relatadas. Todo o sabor da infância – e numa época em que a meninada não conhecia o poder apelativo da Internet e dos videogames - está presente na obra, e com certeza nos fazem recordar a nossa própria infância.

O modo despojado e leve com que narra fatos aparentemente corriqueiros, também. Entretanto, em se tratando de um romance de recordações de seus tempos de criança em sua terra natal, é natural que alguns episódios sejam perceptivelmente fantasiosos. Trata-se sem dúvida de uma daquelas obras de Sabino, em que a naturalidade da narração não diminui em nada o clímax da história. Pelo contrário. A ingenuidade dos pensamentos do protagonista Fernando, quando criança, comove espontaneamente o leitor mais niilista.

Sua narração começa em meio a um temporal, que denunciava grosseiramente as goteiras de sua bucólica residência. Seu pai, sua mãe e irmãos, todos fazem parte da trupe de personagens. Enquanto brincava com as poças de água, provocadas pela chuva, o mesmo Fernando se depara com um homem que conversa brevemente com ele, se despedindo em seguida sem revelar o nome. O menino não sabia quem era aquele misterioso ser. Somente no final do livro é revelado ao leitor o paradeiro do individuo. Tratava-se do próprio escritor, já adulto, que em meio ao lirismo da prosa de Sabino, trava em determinado momento, um singelo contato com a sua versão mirim. Mesmo cercado por fatos prosaicos, tal ocorrido oferta bela dose de emotividade à obra.

Os eventos improváveis e fantasiosos, personificações das quimeras e aventuras imaginárias infantis, figuram na obra descritas com naturalidade e de forma espantosamente real – sem uma sugestiva atmosfera onírica -, desde o poder de fazer milagres que o menino adquire até a incrível descoberta no espelho, episódio que intitula o romance, inclusive de amplitude alegórica – mas que me recuso a discorrer porque resultaria num desagradável spoiler acerca do livro.

O surrealismo presente em O menino no espelho não se restringe à conversa atemporal do homem com a criança. Em dado momento da narração de suas peripécias juvenis, Fernando brinca e conversa com o seu reflexo no espelho, que por sua vez, ganha vida e passa a agir em vários momentos como o seu duplo. Tornam-se grandes amigos. Porém, quando descoberto por terceiros, o reflexo retorna ao seu mundo, o espelho, de onde jamais sairia novamente. Outros saudosos episódios infantis são contados primorosamente, como o primeiro amor, sua relação com os colegas da escola, a torcida pelo América de Belo Horizonte, o seu clube do coração, as brincadeiras com a amiguinha Mariana e o apego aos animais de estimação que povoavam a casa: um cachorro, um coelho, um papagaio e uma galinha, a quem batizou de Fernanda e salvou da “degola” na véspera desta se tornar o prato do dia na refeição.

Texto 1
O homem disse que tinha de ir embora – antes queria me ensinar uma coisa muito importante:

– Você quer conhecer o segredo de ser um menino feliz para o resto da vida?

– Quero – respondi.

O segredo se resumia em três palavras, que ele pronunciou com intensidade, mãos nos meus ombros e olhos nos meus olhos:

– Pense nos outros.

Na hora achei esse segredo meio sem graça. Só bem mais tarde vim a entender o conselho que tantas vezes na vida deixei de cumprir. Mas que sempre deu certo quando me lembrei de segui-lo, fazendo-me feliz como um menino. (SABINO, Fernando. O menino no espelho. 64 ed)

Questão 38

Considerando o Texto 1, é CORRETO afirmar que:

01. os pronomes sublinhados no trecho: sempre deu certo quando me lembrei de segui-lo (linhas 8 e 9) fazem referência, respectivamente, ao menino Fernando e ao homem Fernando.

02. a palavra que nas três ocorrências sublinhadas no texto (linhas 1, 4 e 7) está funcionando como pronome relativo, pois ao mesmo tempo em que liga orações também aponta para um antecedente.

04. o trecho: Só bem mais tarde vim a entender o conselho que tantas vezes na vida deixei de cumprir (linhas 7 a 9) pode ser substituído por: bem mais tarde é que vim a entender o conselho que tantas vezes na vida deixei de cumprir, já que tanto a expressão só como é que são recursos lingüísticos indicadores de ênfase.


08. a expressão verbal deixei de cumprir (linha 9) foi empregada para indicar anterioridade ao marco temporal passado vim a entender (linha 8).


16. o fragmento: Mas que sempre deu certo quando me lembrei de segui-lo (linhas 8-9) aponta uma causa cuja conseqüência está presente em: fazendo-me feliz como um menino (linhas 9).

Gabarito: 28 (04 + 08 + 16)
Questão 39

Assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S) a respeito de O menino no espelho, de Fernando

Sabino e do Texto 1.
01. É um romance biográfico, em flash-back, em que o narrador/protagonista relata aventuras

da infância de seu pai, como se pode constatar no Texto 5.
02. A atmosfera de infância, de aventuras e de invenções, evidenciada em episódios como o da revelação da Sociedade Secreta “Olho de Gato”, perpassa toda a narrativa.
04. A inversão “O menino e o homem” (prólogo) versus “O homem e o menino” (epílogo) pode ser aproximada à epígrafe do livro “O menino é o pai do homem”, de William Wordsworth, evocando a idéia de que o menino Fernando determinou o homem Fernando.

08. O detalhamento descritivo na criação de cenas é abundante em todo o romance, como é possível perceber em: Quando chovia... todo mundo levando e trazendo baldes, bacias, panelas, penicos... me divertia a valer quando uma nova goteira aparecia (p. 13).

16. O protagonista pode ser comparado a um herói quixotesco, ou bem-intencionado, uma

vez que está sempre em busca de conflitos para resolvê-los, como quando salva a galinha de “virar” molho pardo ou quando liberta todos os pássaros do viveiro do vizinho.
Gabarito: 30 (02 + 04 + 08 + 16)

QUESTÃO 14

Sobre O Menino no Espelho, de Fernando Sabino, todas as alternativas estão corretas, EXCETO

A) A narrativa apresenta o menino Fernando como leitor de histórias infantis e revistas em quadrinhos, tais como as de Robinson Crusoé, do Sítio do Pica-pau Amarelo, de Alice no país das maravilhas, de Tarzã e de Mandrake.

B) Os personagens dos livros e das histórias em quadrinhos vão seduzir o menino e motivá-lo a construir os seus brinquedos e histórias fantásticas.

C) O personagem Odnanref, que saiu do espelho, ajuda o menino Fernando a conseguir vencer o valentão de sua escola, Birica.

D) O autor Fernando Sabino utiliza o jogo dos espelhos como uma forma de fazer uma reflexão sobre a alma exterior e interior do ser humano.

C

17. Sobre O Menino no Espelho, todas as alternativas abaixo são corretas, exceto:

A- É o romance de Fernando Sabino que alcançou maior repercussão. "Publicado em 1956, é ainda bem aceito por tratar de uma geração. Não a dos anos vinte, mas a dos vinte anos, daí a sua permanência."

B-O romance narra as aventuras do garoto Fernando (próprio autor), que vai desde uma cumplicidade árdua com a galinha Fernanda, a quem salva da morte, passando por grandes aventuras com personagens das histórias infantis, e pelo Sítio do Pica-Pau Amarelo.

C - O protagonista Fernando torna-se o agente secreto Odnanref, campeão de futebol, herói escoteiro, o mais forte da escola.

D- Fernando Sabino, ainda menino diante do espelho, nos remete a um universo infantil intimista, na projeção de um ideal de pureza e ingenuidade que só uma criança poderia alcançar.

E - Andar de bicicleta, empinar uma pipa ou jogar bolinha de gude são coisas que se aprende quando se é criança para nunca mais esquecer. O menino que se vê refletido no espelho descobre o melhor de si mesmo e, como disse William Wordsworth, torna-se pai do homem.


A

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. O conteúdo do blog é nota dez, a interação das questões com o texto é muito boa.

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  3. Manda mais perguntas para nos treinarmos. Gostei muito, excelente trabalho

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